5 de set. de 2008

Sintomas de uma sociedade doente

Sem querer ser arrogante, mas possuo um hábito que poucas pessoas possuem: quando estou dirigindo e chego num esquina, independentemente de ter faixa de pedestre ou não, se vejo que há um pedestre esperando para atravessar, eu paro o carro, olho para a pessoa e faço um movimento com o braço, indicando: “pode passar; fique a vontade, por favor”.

No entanto, meu ponto aqui não é discutir esse meu hábito. O ponto interessante dessa história é o seguinte: logo após esse sinal com o braço, o que o pedestre faz? Ele atravessa a rua correndo. Isso mesmo: eu paro o carro na frente do pedestre, faço um sinal dando-lhe a preferência e o que ele faz? Sem necessidade alguma, ele atravessa correndo! Como se estivesse atravessando uma rua super movimentada. E o detalhe é o seguinte: isso não acontece uma vez ou outra: isso acontece SEMPRE!

Particularmente, minha interpretação a respeito desse tipo de evento me deixa triste: indica que, claramente, o carro é a prioridade total na negociação carro x pedestre pelas ruas afora. Pelo tamanho do carro comparado ao ser humano, pelo porte, pelo poder de fogo que possui, o pedestre se sente acuado, sem proteção. Parece que, quando tomo essa atitude de parar o carro e dar preferência ao pedestre, estou praticamente dando uma esmola para o medingo, quer dizer, pedestre. Uma migalha de pão. Um fio de esperança. Não consigo pensar em outra coisa que não seja a completa inversão de valores, importa uma sociedade cambaleante, apressada e doente.

Outro coisa que vem me incomodando muito decorre da nova campanha do Visa Electron. Você já assistiu? Basicamente, é assim: são pessoas chegando para assistir um filme no cinema, marcando no relógio, falta apenas um minuto para começar a sessão. A partir desse momento, todas as pessoas começam a correr para suas respectivas salas como se estivessem num filme de ação: umas por cima das outras, desviando de pipoqueiros e outros obstáculos. Na hora de pagar pelo refrigerante, ao invés de usar dinheiro, ele usa Visa Electron, afinal de contas, “por que usar dinheiro? Visa Electron é muito mais rápido e prático”. E, evidentemente, por causa disso, eles chegam a tempo na sala, antes das portas se fecharem.

Na verdade, a propaganda é bacana, bem feita. Mas o ponto é que ela evidencia sintomas de outra doença moderna: a correria, a pressa. As coisas não são mais feitas com calma, sendo curtidas. Muito pelo contrário: ir ao cinema, por exemplo, hoje em dia, só para quem tem um saco de ouro. Primeiramente, você deve se dirigir a um shopping, demorar horas para encontrar uma vaga e estacionar, além de pagar quase o mesmo preço do ingresso por isso, fila para comprar o ingresso, horas de trailers e propagandas e, finalmente, assistir ao (a essa altura, “maldito”, já que você está arrependido) filme.

Quando o personagem da propaganda é praticamente obrigado a usar o Visa Electron por que é “mais rápido”, fica absolutamente evidente esse aspecto da correria em detrimento da calma e tranqulidade. E não é nem pela forma de pagamento que se é usado; é, sim, a sua postura com relação a vida que levamos hoje em dia. O que é melhor? Fazer uma coisa correndo, simplesmente pelo fato de fazê-la, ou curtir um momento com calma?

Cá do meu lado, continuarei usando Visa Electron porque é uma forma de pagamento muito prática, e continuarei dando passagem para pedestres “assustados”. Quem gosta de levar a vida correndo, que leve. Não me espere, pois não vou acompanhá-lo. Prefiro ficar aqui atrás, indo na manha.

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