"Why So Serious?"
Que eu sou um cara implicante, beleza; o Rafa realmente conseguiu definir minha personalidade de forma única. No entanto, existem situações que potencializam essa implicância. E um ótimo exemplo que as descreve são filmes de heróis dos quadrinhos.
Hoje, já sou nenhuma grande leitor de gibis, não acompanho tão de perto. No entanto, houve uma época, entre os 14 e 18, na qual meu pai certamente queria de me deserdar: foi entre esses quatro anos que comprei grande parte dos meus 1.500 gibis, hoje atochados num armário em Santos. Na verdade, meu pai queria me deserdar e minha mãe jogá-los fora. Enfim, basicamente qualquer gibi nacional da Marvel, DC ou Image lançado nesse tempo, terá uma cópia no meu ármario. E, apesar das mais variada gama de heróis e temas, os meus preferidos sempre foram Homem-Aranha e Batman.
Por conhecer tão bem a história e gostar tanto desses personagens, é que eu fico com o pé atrás quando saem esses filmes, com divulgação mega blockbuster, para atrair todo e qualquer interessado num mero filme de ação, que não tem a menor idéia da história do personagem.
Já fui supreendido posivita e comprevei negativamente algumas obras. O primeiro Homem-Aranha, por exemplo. Relutei quando saiu o filme, fui assistir uns quatro meses depois, e quase saí às lagrimas da sala: que bela representação do Amigo da Vizinhança. No entanto, a alegria durou pouco: as sequências do filme são detestáveis.
O mesmo aconteceu com o Batman: alguém já viu o Batman 4? Com o Bane, simplesmente o cara que quebrou sua coluna vertebral, parecendo um mongolóide, e aquele lance de "Batman Credicard", no leilão pela Hera Venenosa? Um imbecil que bota uma bosta dessas no ar devia ser preso.
Mais uma vez, relutei para assistir o tal Dark Knight.
No entanto, graças a Deus, sai satisfeito da experiência.
O filme em si não é uma maravilha: demora para engrenar, o história é até bem amarrada mas frágil (Batman mostrando sua identidade? Não creio). O grande ponto é quando o Coringa é preso e começar a falar groselha para todo lado. Aliás, groselha não: palavras aterrorizantes, extremamente bem escolhidas por um psicopata de primeira.
O grande ponto do filme é a dualidade herói/vilão entre Batman e Coringa. Quem é o bom ou mal dessa história? Os dois estão lá fazendo o quê? Para comparar: o Homem-Aranha (que eu também amo, vale dizer), em 100% dos gibis se lembra do lance do "Grandes poderes geram grandes responsabilidades". Isso é bem legal, mas chega a ficar infantil quando ele vai brigar com algum dos seus inimigos que querem apenas ficar ricos ou dominar o mundo.
Com o Batman é uma coisa muito mais psicológica, que envolve loucura e ações doentias: não é a toa que o Asilo Arkhan está sempre presente nas histórias. Depois da mortetrágica de seus pais, na sua frente, ele decidiu se tornar um herói, e vê surgir a sua volta uma penca de vilões, apenas para destruí-lo. Enfim, começa o questionamento: "quem quer salvar quem"? O diálogo final entre Batman e Coringa é antológico: a grande verdade é que ambos dependem um do outro para continuar seguindo, seja o que camihno que for.
Palmas pro filme. A história, apesar de algumas derrapadas, coloca o Coringa nas alturas, como um dos vilões mais instigantes, loucos e aterrorizantes que existem (e, na minha ótica, isso se deve mais ao texto do que por conta do ator). Em templos de idolatria a "Floras" da vida, o cara que manda nessa é mesmo o Coringa.
O Batman pode até ser querido por crianças; mas a verdade é que ele é um dos heróis mais densos, com histórias para levantar questionamentos até no mais cético, racional e, por que não, "normal" adulto.