Eu tinha 15 anos, estava no primeiro colegial. Em mais um aniversário, ganhei um daqueles famosos vale-presente, um "cheque-disco". Convidei o Glaucus e lá fomos nós ao Gonzaga, escolher um novo cdzinho para a minha ainda parca e de baixa qualidade coleção de discos.
Vale aqui um adendo: nessa época, eu tinha um gosto musical muito ruim, pouco desenvolvido, com exceção de Raul Seixas, Paralamas, Legião e Beatles. De resto, eu ouvia Jovem Pan mesmo, esses "poperôs" que tocam em qualquer rádio mequetrefe.
Bem, chegamos lá eu e o Glaucus e começamos a fuçar os CDs. Depois de algum tempo, algumas dúvidas (certamente, deviam ser um CDs bem ruins), quando o Glaucus pegou um disco de capa preta, com um prisma. "Cara, esse aqui é o
Dark Side of the Moon, do Pink Floyd. Compra que é fudido, eu garanto."
Pink Floyd?
Dark Side? Nunca tinha visto mais gordo... e, ainda por cima, com um gosto musical ainda imaturo, o preconceito com o Pink Floyd era total. Imaginava algo meio extraterreno, meio viajante... não curtia, não queria. No entanto, por insistência do Glaucus (graças a Deus), levei o tal disco.
Cheguei em casa e o pus no som. Começa o disco. Cadê a música? Passam 10 segundos, 20, 30... caraca, que troço é esse? De repente, mais de um minuto depois, um grito e a coisa começa a rolar. Em seguida, On The Run, com aquele ritmo doentio e, por fim, os relógios de Time. Fiquei traumatizado, tirei o CD da hora, desencanei. "Que bizarrice", pensei. Abandonei-o na estante.
Algumas semanas depois, vem o Glaucus me pergunta "e aí, e o disco"? "Muito bizarro, desisti". Ele insistiu pela segunda vez (graças a Deus, novamente): "tenta de novo, pô! Dá mais uma chance".
Resolvi abraçar a coisa e fui tentar ouvir de novo. Ouvi, inteirinho. Ainda achei muito bizarro, mas um pouco menos. Tentei de novo. Passei a gostar um pouquinho mais. Ouvi de novo. Depois de novo. E de novo.
Quando fui ver, sem perceber, comecei a descobrir as perolazinhas do disco. Aqueles barulhos bizarros e solos esquisitos começaram a se mostrar elementos criativos, beleza, enfim... inacreditavelmente, o Glaucus estava certo. Dei tempo ao tempo, e comecei a descobrir um a nova forma de música, o tal do Rock Progressivo.
Fiquei louco, impressionado, apaxionado. Nunca pensei que uma música, um disco, poderiam me deixar tão transtornado e desorientado (positivamente). O mais legal é que viciei no disco totalmente e, de tempos em tempos, minha música preferida mudava. Todas as músicas do disco, inclusive Any Colour You Like, já foram a música preferida da minha vida um dia.
No entanto, para todo e sempre, depois de milhões de audições do disco, uma das músicas preferidas da minha vida foi composta pelo senhor que morreu hoje, Richard William Wright, ou apenas
Rick Wright. Essa música chama
The Great Gig in the Sky, quarta faixa do disco, que é composta basicamente de um piano e uma gritaria. A gritaria mais bonita e arrepiante de todos os tempos.
O Pink Floyd, banda da qual Wright fazia parte, mudou minha vida não só no espectro musical. Certamente, esse foi um primeiro passo para abrir a minha cabeça para muitas coisas, como arte, cultura, visão do mundo em geral. E, até hoje, me assusta o fato de um disco, simplesmente um "mero" disco, ser uma obra tão importante não só na minha vida, mas na de muita gente: são 44 milhões de cópias vendidas desde 1973. Quer conhecer melhor por que esse disco é tão importante para a história da música mundial?
Leia a brilhante resenha de Felipe Cotta.
E hoje, dia 15 de setembro de 2008, Wright nos deixa.
Tinha 15 anos, era apenas um garoto em Santos no primeiro colegial. Hoje, o Thiago Reimão de 26 faz uma reverência a um cara que criou uma obra marcante e eterna: "Wright, vc cumpriu sua missão na Terra com brilhantismo. Você mudou minha vida para sempre. Como diria a voz no início de The Great Gig, "
And I am not afraid of dying. Any time will do; I don't mind. Why should I be Afraid of dying? There's no reason for it—you've gotta go sometime."
Obrigado e descanse em paz."
Nenhum comentário:
Postar um comentário