10 de set. de 2008

Cesar Cielo e a (in)capacitada imprensa brasileira

Antes do meu texto propriamente dito, leia o trecho abaixo, colhido do site UOL no dia 08/09/2008:

"As longas horas nos estúdios de TV também cansaram o nadador. "Ah grava uma vez, daí volta, faz de novo, isso tudo é bem exaustivo, fora o tempo de espera até iniciar o programa. Nisso, vai o dia todo", contou o atleta, inexperiente, que até relevou perguntas dos desinformados sobre natação. "Me perguntaram se o Phelps me põe medo nos 400 m medley, prova que eu nunca nadei na vida. Aí eu eu disse que sim, e veio aquela cara de espanto do repórter. Até a Joanna Maranhão ganha de mim nos 400 m medley", se diverte o nadador. "Ah e tem a pergunta da virada, que é boa também. Perguntaram se eu melhorei a virada dos 50 m", diz, em menção à prova em que levou o ouro olímpico e tem apenas uma passagem pela piscina, sem viradas.""

Recebi esse texto do amigo Gavroche Fukuma, jornalista inteligente e altamente capacitado, tendo em seu currículo trabalhos na redação do Estado de SP, na editoria de Esportes. Certamente, leitor, o texto lhe provocou risos, mas a realidade é que o buraco é muito mais embaixo: a imprensa (no caso, vamos nos ater à esportiva) é absolutamente despreparada, inclusive para cobrir o maior esporte nacional, o futebol.

Começamos pelo representante-mór de nossa imprensa esportiva: Galvão Bueno. Locutor há 584 anos, ele é o porta-voz oficial dessa massa chamada Brasil: durante as transmissões, ele incentiva, consola, cobra, tripudia os adversários, enfim, ele conta a sua própria história e assume como verdade o que ele está vendo; ou seja, faz tudo, menos narrar.

Passando para outros esportes, aí o bicho pega mesmo, como a supracitada natação do Cielo. A quantidade de comentáristas"especilistas" contratados para as olimpíadas era vista em todos os esportes, com exceção feita ao futebol. Esportistas não-jornalistas geram comentários bacanas, mas também imprecisos e passionais. Afinal de contas, ali ninguém estudou para exercer essa profissão de forma "free-lancer", e contam apenas com a experiência adquirida empiricamente e o bom senso. O fato é que não dá para condená-los mas, certamente, essa não é a melhor alternativa.

Fazendo um exercício rápido, vem a minha mente uns 200 especialistas em futebol: Rizek, PVC, Birner, Milton Neves, a galera do Estádio 97... ou seja, tem uma cambada, de todas as áreas e cantos cobrindo futebol... mas ESPORTE mesmo, ninguém manja. Um Renato Maurício Prado tb manja de vôlei aqui, um Juca Kfouri manja tb de basquete ali...

Basicamente, ser o tal do "País do Futebol" acaba distorcendo nossa impressa, que vai em massa nessa direção. Na hora de cobrir outros esportes, ela escorrega, e feio. Consequentemente, ela é a última que pode cobrar um melhor desempenho do Brasil nas olimpíadas, já que nem sabem o que estão lá cobrindo. No entanto, quanto a nós, leitores, consumidores de informação, cabe sim cobraça a esses (na maioria) péssimos profissionais esportivos.

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