Pato Fu - Daqui Pro Futuro [2007]
por Felipe Cotta (publicitário, redator, articulista e compositor)
O novo - e nono - álbum dos mineiros do Pato Fu é um presente que o pop brasileiro há tempos merecia ganhar. "Daqui pro Futuro" é fruto de uma maturidade ímpar e por vezes inesperada na história do Pato Fu.
Justiça seja feita, desde os tempos de "Ruído Rosa", de 2001, que a banda vem se transformando. Cada novo disco é uma boa surpresa e o Pato Fu tem se mostrado um competentíssimo gerador de pequenas pérolas pop.
Não que os discos anteriores a "Ruído" sejam menos bons. São muito legais. Mas naturalmente falta ali no começo da carreira o filtro que hoje limita as piadas e brincadeiras ao seu nível certo. O Pato Fu sempre teve um lado bem-humorado delicioso - e que inclusive trouxe fama à banda - e inteligente, mas às vezes havia overdose. De uns discos pra cá, eles vieram acertando cada vez mais a receita. E hoje, com o "Daqui Pro Futuro", o que se ouve é uma banda totalmente madura, que usa o bom-humor e o escracho, sim, mas de um jeito muito mais esperto do que fazia há 10 anos.
Prova disso pode ser encontrada em "Woo!", uma excepcional e divertidíssima ode à eventuais quebras de regras para que nos mantenhamos vivos. Deliciosamente "Secos & Molhados"iana, a música é empolgante e inteligente, barulhenta e bem-humorada na medida certa. Se você ficar cantarolando o refrão ininterruptamente, não se preocupe. É um sintoma normal.
Refinado e extremamente sutil, o bom-humor continua presente em "Nada Original", onde Fernanda desfila versos espertos e venenosos sobre a previsibilidade das pessoas e cobra delas uma atitude. Um dos melhores arranjos do álbum, com guitarras precisas e maneirismos vocais interessantes. Já livre do veneno, a banda mostra seu lado angelical e materno em "Mama Papá", feita em homenagem à pequena Nina, filha de Fernanda e John (vocalista e guitarrista, respectivamente, e fundadores da banda). É a música "bonitinha" do disco.
Mas o filé do álbum é composto mesmo pelas músicas mais "densas". A linda e soturna "Espero", uma das melhores performances vocais de Fernanda aliada a um instrumental impecável e original, cheio de arpejos e backing vocals inventivos; a poética "A Verdade Sobre o Tempo" , a triste e intimista "Vagalume" e a emocionante faixa de abertura "30.000 pés", onde eles lá do alto se vêem conscientes do patamar que atingiram. E cantam orgulhosos sobre o que têm para mostrar, com a recompensadora certeza de que o ouvinte responde o sentimento com reciprocidade.
Pode acreditar: eles agora sabem voar.
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