Meu pai sempre gostou de música, basicamente Jazz e Brasileira. Lá em casa, temos uma vasta coleção de CDs e LPs e, além dos estilos citados anteriormente, passamos também por coisas como
Missa Luba, que são cantos africanos, indo até
Som Imaginário. Como toca piano, meu pai sempre teve admiração especial por esse tipo de músico.
Com meus 17, 18 anos, meu gosto musical até passava pela música nacional, coisas como
Raul,
Paralamas e
Legião, mas estava mais focada era mesmo do Brit Pop, com o descomunal Oasis. Ou seja, meu pai e eu não tínhamos uma sintonia musical das mais finas. Não recomendávamos discos um para o outro, afinal, os gostos eram razoalmente díspares. No entanto, isso estaria prestes a mudar.
Em algum momento da minha vida, não me recordo exatamente quando, decidi arriscar um pouco, tentar entrar nas entranhas do tal do Jazz, e "peguei emprestado"(eufemismo para roubar) um cdzinho do meu pai, de um cara chamado
Thelonious Monk. Talvez o que tenha me chamado a atenção dele tenha sido esse nome engraçado.
Estava ouvindo o disco e tals, quando chego na faixa quatro, chamada
Ruby, My Dear. Fiquei emudecido. Doido. Insano.
"Deus do céu, o que é essa melodia? É só um cara no piano... e ele toca coisas nesse piano... que são como palavras. Palavras lindas, que vem de dentro, que parecem um poema. Poema que eu sempre tentei formular, expressar... e nunca soube como"
Sim, esse foi o momento do estalo, em estalo arrebatador. Esse foi o momento em que um novo mundo abriu para mim. Finalmente, eu começava a entender a pontinha desse iceberg vasto, único e maravilhoso chamado Jazz.
Ouvi esse CD até furar. Até chorar. Até sentir meu coração completamente permeado pelo Jazz. Fui atrás da história do
Monk. Ele era completamente doente, psicótico, louco. Ele parava de tocar para dançar no palco. Ele se vestia com roupas engraçadas. Ele tocava, para os padrões do piano, de forma totalmente errada, equivocada, como com os dedos paralelos às teclas. Mais, ele tocava
stride, ou seja, com a mão fechada ou com o cotovelo. Achei mais sensacional ainda! "Oras, se esse cara faz uma música que me enlouquece e, ainda por cima, passando por cima de qualquer padrão, esse cara é um gênio completo".
Queria mais, queria sentir mais Jazz. Conheci
Charlie Parker,
Miles Davis,
Billie Holiday... depois veio
Coltrane,
Charles Mingus... e, mais recentemente, Masaki Tasaki e
Soil & Pimp, que é Jazz japonês. Sim, tem Jazz no japão. E o que é melhor: é absolutamente fudido.
Além disso, todos eles foram doentes, fodidos, drogados, depressivos e... gênios. Sim, gênios. Conclui, o cara que acorda para trabalhar às sete, volta às oito coma esposa, janta e dorme pode ser um sujeito tudo... mas jamais, JAMAIS será um gênio.
Hoje o Jazz, assim como o Rock, são meus estilos músicais (talvez, os dois únicos) preferidos. O Jazz tem uma coisa, definitivamente, única: sem palavra alguma, essa música fala direto ao coração. A melhor definição que eu já vi de Jazz foi nos Simpsons (isso mesmo!): a Lisa, com seu saxofone em mãos, conversando com Gengivas Sangrentas, aponta o dedo indicador para seu próprio peito, o lado esquerdo do peito, e afirma: "O Jazz vem daqui". Além disso, meu pai e eu parecemos duas crianças caçando Jazz pela internet.
Pai, obrigado por ter Monk em casa.
Monk, obrigado por ser um biruta completo e fazer minha cabeça explodir, para nunca mais ser a mesma.
Jazz, obrigado por tocar meu coração tão a fundo, me dizer coisas que apenas você diz.
Para todo e sempre, Amém.
Ps 01: esse texto é uma homenagem a Thelonious Monk, meu jazzista preferido, e que faria 91 anos no último 10 de Outubro)
Ps 02: a imagem que abre esse texto é a capa da revista Time, uma das mais influentes do planeta, de 28 de fevereiro de 1964)
Ps 03: esse é o segundo texto que escrevo sobre Monk.
Leia o primeiro, escrito exatamente há um ano.
Ps 04: ficou instigado com o assunto? Quer saber um pouco mais de Jazz? Assista ao dcumentário
Jazz, de Ken Burns. É de chorar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário