Há 45 anos, o auge do futebol-arte
Por ODIR CUNHA
Em 11 de outubro de 1962, uma quinta-feira como hoje, na velha e bela Lisboa iluminada pela magia de um futebol que nunca mais se viu, Benfica e Santos fizeram a segunda partida da decisão do Mundial Interclubes. Ah, tempos que lembrados agora parecem sonho, pois vivia-se o deslumbramento do futebol-arte! Santos e Benfica falavam não só o mesmo apaixonante idioma de Camões, mas também compartilhavam a mesma linguagem da beleza, da classe, da coragem e do jogo limpo. Um verdadeiro encontro de dois mundos gêmeos, que não pode jamais ser esquecido.
Como esquecer uma partida que tinha Pelé e Eusébio no esplendor de suas carreiras? Que tinha o Santos, base da Seleção Brasileira bicampeã do mundo, contra o Benfica, autêntica Seleção de Portugal, que desfrutava o melhor momento de sua história? Como não fechar os olhos e imaginar o Estádio da Luz iluminado pela magia dos craques?
Nunca me conformei de que esta data passasse batida na história do Santos e do futebol brasileiro. Mais do que representar a primeira vez que um time nacional se tornou campeão do mundo, ela simboliza uma época que dificilmente será revivida. Quem viu, viu. Quem não teve a benção de ver, só mesmo através da literatura.
Por isso decidi pesquisar mais sobre o jogo, sobre aquela época, e escrever "Donos da Terra", a ser lançado nos próximos dias pela Editora Realejo, ou Realejo Livros, de Santos. Neste momento, o editor de arte Luis Carlos Almeida está juntando palavras e imagens que logo estarão à disposição dos santistas e dos amantes do futebol. Santos tem a sorte de ter uma Editora como a Realejo, do jovem e idealista José Luiz Tahan, que preserva as boas coisas da cidade em obras esmeradas, imprescindíveis.
O melhor do livro
Se me perguntassem o que o livro tem de melhor, eu responderia:
1 - O depoimento de jogadores do Benfica que participaram da partida, tais como: Eusébio, António Simões, José Augusto, Humberto Fernandes e Fernando Cruz
2 – Fotos inéditas, extraídas de fotogramas do Canal 100.
4 – Cobertura da partida, com fatos anteriores e posteriores ao evento.
5 – Uma boa visão daquele dia, mês e ano, dos acontecimentos daquele início de anos 60.
6 – A beleza da edição de arte.
7 – A concisão, o texto enxuto e, por conseqüência, uma obra sem exageros também no preço, que caberá no bolso de todo leitor.
Ficha técnica
Benfica 2, Santos 5
Primeiro tempo: Benfica 0, Santos 2.
Data: 11 de outubro de 1962 (quinta-feira)
Horário de Lisboa: 22 horas.
Horário do Brasil: 19 horas.
Local: Estádio da Luz, Lisboa.
Árbitro: Pierre Schinter (França), auxiliado por Steiner e Boalilou.
Público: Cerca de 80 mil pessoas, com 73 mil pagantes.
Renda: 2,5 milhões de escudos.
Benfica: Costa Pereira; Humberto, Raul e Cruz; Caven e Jacinto; José Augusto, Santana, Eusébio, Coluna e Simões. Técnico: Fernando Riera.
Santos: Gilmar; Olavo, Mauro e Dalmo; Zito e Calvet; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe. Técnico: Luís Alonso Peres (Lula).
Gols: Pelé, aos 17 e 26 minutos do primeiro tempo; Coutinho, aos 3, Pelé, aos 19, Pepe aos 31, Eusébio, aos 41, e Simões aos 44 minutos do primeiro tempo.
Texto de Quarta Capa
Vai começar o espetáculo!
11 de outubro de 1962, Estádio da Luz, Lisboa.
Em um jogo deslumbrante, o Santos goleia por 5 a 2 o Benfica, bicampeão europeu, e se consagra o primeiro time brasileiro campeão do mundo. Pelos comentários dos jogadores, do árbitro e da imprensa dá para se ter uma idéia do impacto que aquela partida provocou no mundo do futebol.
"Um espetáculo. Foi uma noite excepcional do futebol. Mesmo perdendo por 5 a 2, nós não nos sentimos derrotados. Saí de campo com uma impressão diferente do que era futebol. O Santos era superior porque tinha jogadores excepcionais. O Santos tinha um time maravilhoso" (José Augusto, ponta-direita do Benfica e da Seleção Portuguesa).
"É muito difícil encontrar tanto craque, tanto jogador inteligente como naquele time. Eu comparo o Santos de 62 com a Seleção do Brasil de 70. Considero as duas as melhores equipes de futebol que eu vi até hoje. A Seleção de 70 é a confirmação de um modelo de jogo que o Santos já vinha demonstrando há muito tempo" (Simões, ponta-esquerda do Benfica e da Seleção Portuguesa).
Sim, neste momento o Santos é imbatível. Seus jogadores se aplicam com ardor, não me parece viável que algum time posso vencê-lo" (Vittorio Pozzo, técnico bicampeão mundial pela Itália em 1934 e 38).
"Em cada posição o Santos tinha jogadores extraordinários, mas foi o Pelé que fez mais. O Pelé é um jogador como ainda não conheci. Ele estava impossível de ser marcado" (Humberto, zagueiro-central do Benfica).
"Mas não era só o Pelé. Tinha o Pepe, o Zito, o Coutinho, o Dorval... Era uma equipe extraordinária" (Fernando Cruz, lateral-esquerdo do Benfica e da Seleção Portuguesa).
"O Santos é uma equipe quase perfeita. Joga sereno, seus homens sabem se desmarcar e fazer passes, todos eles possuem um controle de bola excepcional" (Matt Busby, técnico do Manchester United).
Desde há muito acompanhando o Santos pela Europa, julgo-a a melhor equipe do mundo, superior, inclusive, àquela famosa do Honved (Gabriel Hanot, editor do L’Équipe).
"Foi a melhor partida que vi em toda a minha vida" (Pierre Schwinte, árbitro do jogo).
"O Brasil tem também o melhor clube do mundo"
(France Football, França).
"O que se pode dizer do Santos? Ontem, qualquer equipe teria sucumbido sob sua potência" (Diário de Notícias, Portugal).
"Não há nem pode haver melhor" (Gazeta Esportiva, Brasil).
O fatos do dia, do mês, do ano, os preparativos para o grande confronto, os elencos fantásticos de Santos e Benfica, os geniais Pelé e Eusébio, os lances da partida – enfim, neste livro você terá todas as informações sobre um dos jogos mais importantes da história do futebol, aquele que marcou o auge da era do beautiful game e consagrou o primeiro time brasileiro campeão do mundo, o insuperável Santos de Pelé.
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Odir Cunha é autor de "Time dos Sonhos, a história completa do Santos F.C"; "Pedrinho escolheu um time" e "Heróis da América, a história completa dos Jogos Pan-americanos".
Nota do blog: Um dia ouvi de Pelé que esta partida diante do Benfica foi a melhor exibição de um time que ele viu em sua vida.